Viva os 210 anos de Bakunin

Publicada no Jornal O Amigo do Povo, nº9, Maio/Junho/Julho de 2024.

Grito do Povo.

Nascido em 30 de maio de 1814, Bakunin dedicou sua vida à luta revolucionária. Foram inúmeros os sacrifícios pela causa do povo, deserção da promissora carreira militar, confisco de suas propriedades, cassação dos seus direitos civis, mais de uma década de prisões, condenações a pena de morte e prisão perpétua. Incalculáveis foram as vezes que este russo arriscou sua vida nas barricadas, nas trincheiras, na linha de frente. Se existe um espírito de revolta, ele se hospedou por um bom tempo em seu corpo. No entanto, mas que um homem de ação, Bakunin foi um dos mais proeminentes pensadores socialistas da história.

Desde sua juventude, Bakunin se engajou nos estudos filosóficos. Em 1835, Bakunin ingressou num círculo de intelectuais e iniciou seus estudos em Kant. Logo abandona Kant e se volta para o pensamento de Fichte (filósofo Kantiano que superou o mestre). A partir de Fichte, Bakunin é introduzido a Hegel, estudando intensamente de 1837 a 1840. Durante esse período é responsável pela primeira tradução de obras de Hegel para o russo. Nesse período buscou conciliar o idealismo filosófico com a realidade concreta. É nesse contexto que seus primeiros escritos são publicados, com análises fundamentadas na filosofia hegeliana, contudo rumado para outros caminhos. Bakunin chegou a um grau de domínio da dialética hegeliana que ganhou notoriedade na Rússia e na Europa, obtendo reconhecimento de nomes como Marx, Engels e Herzen. Através de seu pensamento e ação se tornou uma das principais referências do movimento socialista europeu.

Não por mero acaso, em 17 de julho de 1918, décadas após sua morte, o Conselho de Comissários do Povo (presidido por Lenin) decidiu construir e reformular 50 monumentos, incluindo uma estátua de Bakunin na Praça Turgenevkaya esculpida por Boris Koroliov. No primeiro aniversário da Revolução de Outubro, um obelisco foi erguido em Moscou, com Bakunin, Marx e Engels entre os homenageados. Em 1926, já no regime Stalinista, uma comissão governamental foi estabelecida para organizar eventos e publicações em homenagem ao jubileu de morte de Bakunin, no mês de junho. Bakunin não tinha como ser apagado como referência revolucionária na Rússia.

Até sua morte ele seguiu sendo um homem de ação e também da escrita, cada vez mais avançando no desenvolvimento de uma concepção materialista da realidade. Infelizmente até hoje é comum que sua capacidade intelectual seja ignorada, contudo sua obra atravessou séculos inspirando desde a Comuna de Paris, a Revolução Russa e até a luta dos Panteras Negras, como no ensaio “Revolutionary Suicide: The Way of Liberation” em que recorreram ao velho russo para falar sobre seriedade e sacrifícios na luta revolucionária.

Que o espírito revolucionário de Bakunin continue a inspirar e guiar a luta por um mundo mais justo e igualitário. ■

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