Epidemia de dengue é resultado dos problemas sociais

Publicada no Jornal O Amigo do Povo, nº9, Maio/Junho/Julho de 2024.

Érico.

Apontada atualmente como a principal doença transmissível por insetos, casos de dengue marcam recordes no ano de 2024. Na Região Centro-Oeste, os dados de 2023 saíram de 129 óbitos registrados para 451 em 2024. No Distrito Federal registrou-se no ano passado 14 mortes em decorrência da doença, enquanto neste ano o registro de mortos por dengue passou dos 2801 casos, quantidade vinte vezes maior. Os números abaixo obtidos no Boletim Dengue da Vigilância Epidemiológica do DF demonstram a gravidade.

Embora alguns especialistas associem o alto crescimento dos casos ao “relaxamento” da sociedade, ocasionado no período da pandemia de covid-19, é fato conhecido e veiculado que a dengue cumpre um ciclo muito claro para a viabilidade de sua proliferação e contágio. Enquanto doença vetorial (transmitida por outro organismo provocando infecções entre seres humanos ou animais), a reprodução da dengue está associada a condições climáticas, ambientais e as complexas condições sociais conjugadas. Isso significa que o regime de chuvas e a ocorrência de acúmulos de água em objetos ou superfícies, não são potentes o suficiente para desencadear uma emergência de saúde tamanha, senão for fortalecida pelas desigualdades sociais, baixo investimento em saneamento e saúde pública, além de claro, decisões políticas que ocasionam estes e outros problemas sociais envolvidos.

No plano das decisões políticas, a demora na compra e distribuição da vacina da dengue no sistema de saúde pública, ou mesmo a produção original de uma vacina pelas entidades de pesquisa em saúde do Estado brasileiro, demonstram a pouca vontade de Lula e Nísia Trindade (ministra da saúde) em mitigar o problema da dengue, que tende a piorar. O tão aclamado Sistema Universal de Saúde, utilizado e defendido de fachada durante as eleições pelo atual governo, aos poucos definha. Sem previsão de melhora, se depara com a política orçamentária do Arcabouço Fiscal de Lula-Alckmin e o limite existente para investimentos em saúde.

Dentro desse universo de displicência, o Distrito Federal com Ibaneis Rocha também não apresenta bons resultados. Em dezembro do ano passado, o Sindicato dos Enfermeiros (SindeEnfermeiro) publicou um texto questionando o projeto do governador para a saúde em 2024, visto que no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) “o GDF não aponta investimentos para atenção primária em saúde” e afirmam no texto que a quantidade de Unidades Básicas de Saúde (UBS) é insuficiente para atender a população. Outra queixa trazida é a pressão que as equipes de saúde da família (ESF) sofrem pela demanda espontânea de emergências que acometem as populações.

Nesse cenário, ainda em fevereiro deste ano a rede de saúde do DF entrou em colapso devido a dengue, forçando Ibaneis a nomear 74 vigilantes de saúde do último concurso público. Além da alta na infecção da dengue, atendimentos pediátricos, leitos de UTI dentre outros serviços foram afetados. Casos de depredações e revoltas em estabelecimentos públicos de saúde são frequentemente registrados, escancarando a penosa conjuntura para os trablhadores.

A situação em que a prevenção e o acesso à saúde da população brasileira se encontra deve ser parte das nossas urgências, para não apenas reclamarmos entre nós mesmos dos governantes e do Estado. Construir organizações de bairros, assembleias sindicais, organizações em torno da população diretamente afetada e trabalhadores da saúde é o caminho para que os problemas sociais da saúde diminuam, incluindo nisso a incidência de surtos e epidemias como a da dengue. ■

__________________________
1 Painel de Monitoramento de Arboviroses

Esta entrada foi publicada em Conjuntura, Matérias. ligação permanente.