Entrevista com Pedro César Batista: “O rompimento da relação com Israel exige a mobilização popular das massas”

Publicada no Jornal O Amigo do Povo, nº9, Maio/Junho/Julho de 2024.

    • Pedro César Batista

Jornalista, escritor, poeta e também um histórico militante das lutas populares e anti-imperialistas no Brasil. Há muitos anos tem uma atuação destacada no resgate à memória do seu irmão, João Batista, mártir da luta pela terra no Pará. Tem atuado também nas lutas pela terra e moradia no Distrito Federal e se destacado como liderança do Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino (CSP-DF).

    • Entrevistador:

Antonio Galego, editor geral do jornal O Amigo do Povo.

1. Camarada Pedro, recentemente você foi alvo de uma lista de espionagem política por parte da ABIN através do programa israelense FirstMile. Durante a ditadura você também foi alvo de espionagem por parte do SNI. Você pode nos dizer qual a sua avaliação dessa perseguição e se ela se relaciona a sua militância social e internacionalista?

Pedro – A minha militância vem do final dos anos 70 e ao longo dessas décadas eu tenho tido integração às lutas no campo e na cidade, com os trabalhadores, sempre combatendo a burguesia, o imperialismo e seus agentes que atuam no meio do povo para servir aos interesses do capital. Na ditadura eu cheguei a ficar três vezes preso, tive vários amigos assassinados após o fim da ditadura, inclusive o meu irmão foi assassinado. Meu pai também levou um tiro na cabeça e ficou deformado de um lado do rosto.

Isso significa que o que o governo Bolsonaro fez ao longo de quatro anos do mandato, colocar espionagem para grampear o meu celular, é a continuação dessa ação persecutória da burguesia e do imperialismo àqueles que lutam. Eu coloco única e exclusivamente à minha militância, buscando organizar, unir e construir a revolução socialista a causa dessa perseguição que eu tenho sofrido, seja na época da ditadura, seja na época do fascista Bolsonaro, ou mesmo em governos democráticos que eu sempre tive inúmeras dificuldades com eles. Eu sofri também um bloqueio muito grande por parte de governos reformistas entre 2002 e 2014 e agora também nesse um ano e pouco do governo Lula. Mas assim, é consequência da luta, temos que estar preparados para enfrentar essa situação.

2. O uso de um programa espião israelense pelo Estado brasileiro expõe uma parte do significado das relações Brasil-Israel. Como você avalia a manutenção das relações econômicas, militares e tecnológicas do Brasil com o Estado sionista?

Pedro – O Brasil ao longo de sua história tem tido uma relação de dependência com o imperialismo. Poderíamos dizer que o único período que tentou romper de maneira mais firme foi o governo João Goulart, com a estatização de multinacionais, controle da remessa de lucros. Agora não é diferente. O Brasil, apesar do presidente Lula ter uma posição que destaca e denuncia o genocídio contra o povo palestino mantém a relação, inclusive o embaixador sionista aqui no Brasil se reuniu com parlamentares no Congresso Nacional, inclusive indicou um dirigente para a polícia rodoviária federal, que coordena as relações internacionais, ou seja, é algo inaceitável e que é preciso romper.

Agora, o rompimento dessa relação exige a mobilização popular das massas, bem como um governo popular, que a gente nunca teve na história. Então, neste momento é fundamental a mobilização e a solidariedade ao povo palestino, para que a Palestina de fato seja livre do rio ao mar, não tem condições de existir dois Estados ali onde era a Palestina, com os invasores que estão lá desde 1948, e o Brasil tem a obrigação de romper relações comerciais, políticas e expulsar o embaixador sionista do Brasil e chamar o embaixador brasileiro de Tel-Aviv que deve retornar ao Brasil.

3. O genocídio contra o povo palestino já ultrapassa 200 dias. As cenas da covardia e barbárie sionista, no entanto, não tem alterado a posição pró-sionista ou demagógica de países imperialistas, da mídia internacional e órgãos multilaterais. Como você avalia a atual situação em Gaza e na região?

Pedro – A situação em Gaza é uma política de ocupação do Oriente Médio, a partir da criação do Estado de Israel, uma organização terrorista, como um quartel general dos Estados Unidos na região. Nesse momento, com mais de 200 dias de massacre, um verdadeiro genocídio, com mais de 13 mil crianças assassinadas, mais de 10 mil mulheres assassinadas, há o silêncio dos países ricos, da União Europeia, inclusive da Alemanha que é o segundo país depois dos Estados Unidos que mais recursos e armas manda para seguir massacrando o povo palestino. Então, é a luta anti-imperialista. Nós temos que criar as condições para que os povos que constroem a sua soberania e a sua independência tenham a capacidade de se unir, e nós aqui no Brasil mobilizarmos o povo efetivamente para denunciar o crime, o genocídio, o extermínio e a ocupação sionista nas terras palestinas.

É preciso fazer essa denúncia de maneira contundente. Estados Unidos, a União Europeia, Marrocos e outros países serviçais, como agora a Guiné Bissau que retirou a bandeira do navio que liderava a flotilha levando alimentos para Gaza, precisam ser denunciados. Esses são os inimigos dos povos, querem a guerra, impõem a exploração e buscam com o massacre ao povo palestino garantir a ocupação de todo aquele território. Essa é nossa tarefa: denunciar, mobilizar e organizar na luta anti-imperialista.

4. A resistência político-militar contra a invasão colonial sionista é a base da sobrevivência do povo palestino. Porém, desde o início do genocídio as massas populares no mundo inteiro tem feito grandes demonstrações de solidariedade. Inclusive sofrendo repressão e perseguição. Qual o papel e os desafios da solidariedade internacionalista?

Pedro – Mais recentemente, nessas semanas, nós vimos que em torno de 40 universidades nos Estados Unidos os estudantes estão acampados em apoio ao povo palestino. Ao mesmo tempo o governo e a polícia dos Estados Unidos está prendendo dezenas, além do financiamento ao genocídio em Gaza. O nosso papel é efetivamente construir a solidariedade, denunciando os crimes do imperialismo, do sionismo, do fascismo, que na realidade é uma ação que resgata o nazismo de Hitler. O sionismo hoje é a continuação do nazismo da 2ª Guerra Mundial. E os governos que não se posicionarem, e os movimentos também que se omitirem, serão cúmplices a esse extermínio em curso em Gaza.

A solidariedade tem que construir grandes mobilizações, tem que denunciar, tem que fazer a conscientização para enfrentar a mídia hegemônica que continua mentindo, e efetivamente mostrarmos a verdade aos povos, ao povo brasileiro especialmente. Estados Unidos e os países centrais servem como genocidas, praticando extermínio para a ocupação da palestina. O nosso papel é a mobilização, a denúncia e defender efetivamente a soberania do povo palestina, o direito à liberdade da Palestina e a vida em Gaza. ■

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