Obras de expansão rodoviária incrementam a especulação imobiliária no Distrito Federal e no Entorno

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

Érico

A expansão urbana de Brasília desde a sua construção, em 1960, foi guiada pela abertura das rodovias radiais que ligam o Distrito Federal a capitais e cidades importantes no país. No mesmo sentido das rodovias federais, a periferia se estabeleceu por estas rotas, abrigando a população trabalhadora, pobre, expulsa das áreas nobres e centrais da cidade pelos planos racistas e discriminatórios dos governos Federal e Distrital. Essa exclusão resultou, ao decorrer dos anos, na ocupação próxima aos vetores de expansão rodoviária, como é o caso das regiões administrativas, núcleos urbanos do DF, e municípios goianos que se desenvolveram margeando as rodovias federais, próximas ou além dos limites administrativos do DF, e distante das áreas centrais.

Com a consolidação dessas áreas urbanas, e os problemas estruturais da demanda por habitação, sobretudo da classe trabalhadora, novos bairros surgem com o preceito de resolver os problemas do défice habitacional, e para o adensamento urbano no DF. Entretanto, como se vê, os maiores esforços do governo distrital estão na dotação do território de infraestruturas rodoviárias, criando novas vias, viadutos, ou expandindo as existentes, salvaguardando os interesses de empreiteiros e grandes empresários do ramo imobiliário, além de priorizar o transporte individual. Um exemplo, é o bairro Urbitá, e os novos condomínios fechados e verticalizados em Sobradinho (DF), que através de acordos com empresários imobiliários, será erguido às margens de uma rodovia que sofreu diversas obras de expansão.

Enquanto o governador Ibaneis Rocha (MDB) lança obras rodoviaristas, como a expansão da EPIA Norte, inúmeros viadutos construídos, e negocia áreas com empreiteiros (a exemplo o novo Bairro do Jóquei, próximo a Cidade Estrutural), a população de moradores de rua aumentou significativamente no Distrito Federal. Outro dado que se revela com a posição elitista de Ibaneis Rocha e do GDF em todos os mandatos, é a existência de 100 mil habitações em situação de risco no DF. O bairro Santa Luzia na Cidade Estrutural é um exemplo de ódio aos trabalhadores e a população negra. Santa Luzia está às margens do que será o novo bairro do Jóquei, negociado por Ibaneis. A Cidade Estrutural se originou da necessidade dos catadores que tiravam seu sustento no Lixão da Estrutural, desativado em 2018. Com a desativação o bairro continuou esquecido e carente de infraestrutura básica, como o saneamento, e os trabalhadores, precarizados, contam ainda com auxílios do governo para tentar sobreviver.

Quilombo Mesquita ameaçado

No Entorno do DF, a expansão e qualificação das rodovias feitas no Distrito Federal demonstram a alienação de terras para a especulação imobiliária existente nos limites entre Distrito Federal e Goiás. A expansão da DF-140 que liga o distrito Jardim ABC, em Cidade Ocidental, a Brasília busca beneficiar os condomínios fechados horizontais e verticais que exploram a região, como o Condomínio Alphaville Brasília. Muito próximo dali, o território Quilombo Mesquisa tem sido considerado um bloqueio ao desenvolvimento econômico da região, evidenciando os motivos dos conflitos que por anos se arrastam, e ameaçam a memória viva e tradições do povo de Mesquita. ■

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