O AMIGO DO POVO nº7 – Outubro/Novembro/Dezembro de 2023

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Editorial | As tarefas do proletariado frente ao governo Lula-Alckmin

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Antonio Galego

Foto: As chacinas policiais nas favelas levaram o povo pobre à luta (RJ, 2023)

A nova onda de governos “progressistas” na América Latina ocorre em condições piores pra classe trabalhadora do que no início dos anos 2000. Naquele momento muitos países, inclusive o Brasil, vinham de processos de lutas populares que imprimiram uma pressão maior naqueles governos. A experiência, ainda que limitada, de luta nos anos 80/90 (contra o neoliberalismo de Sarney, FHC…) foram importantes pra transformar as desilusões com os primeiros governos do PT em uma política antigovernista à esquerda nos movimentos sindical e estudantil.

Hoje a situação é diferente. Chegamos ao último trimestre de 2023 e o caráter burguês, militarista e neoliberal do governo Lula-Alckmin é explícito (apesar de alguns disfarces toscos através do discurso identitário). Sua relação com as massas populares é pífia, instrumental, eleitoral. O novo governo Lula não surge de lutas e organizações populares, ao contrário, assume abertamente a tarefa de impedi-las. Além disso, o grande projeto de acumulação capitalista e estruturação do Estado não rompe no fundamental com os governos anteriores, senão que o faz com mais eficiência. Alguns exemplos podem ser citados:
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Não aos despejos violentos no Sol Nascente no DF!

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Érico.

Foto: Brigada de propaganda do Amigo do Povo faz colagem de cartazes no Sol Nascente.

No dia 14 de setembro de 2023 a Vila Canãa, uma ocupação de moradores próxima a Vila Madureira no Sol Nascente, DF foi surpreendida com a ordem de despejo e derrubada de barracos dos moradores da área. Sem aviso prévio, chegaram a Agência DF Legal, a Polícia Militar junto com o Batalhão de Operações Policiais Especiais (PMDF/BOPE) para despejarem crianças, mulheres e homens trabalhadores.

A população da Vila Canãa composta principalmente de crianças e mulheres tem como principal atividade a catação de materiais para reciclagem, materiais estes depositados aos arredores da ocupação. Os moradores montaram barricada com pneus para evitarem a derrubada de suas moradias, ação insuficiente frente ao forte armamento e quantidade de policiais com camburões blindados, polícia montada e retroescavadeira.

O jornal O Amigo do Povo esteve na área acompanhando o conflito e nos solidarizamos com as famílias da Vila Canaã que ali vivem e sonham com um futuro melhor. Convocamos todos a divulgarem as injustiças praticadas pelo governo Ibaneis e pela PMDF nas periferias e favelas da capital federal. ■

O POVO QUER CASA E DIGNIDADE!

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A volta do imposto sindical e o papel do sindicalismo de Estado

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Jiren D.

O governo burguês Lula/Alckmin negocia com centrais sindicais e confederações patronais um projeto de lei que criaria uma nova contribuição obrigatória a ser descontada dos salários de todos os trabalhadores, sindicalizados ou não.

A contribuição, que poderia ser de até 1% do rendimento anual do trabalhador, seria destinada ao financiamento das atividades sindicais. A proposta é uma espécie de compensação pelo fim do imposto sindical, que foi extinto pela reforma trabalhista de 2017.

A proposta reacende o debates de uma país polarizado sobre a atuação dos sindicatos no Brasil. A direita e setores do empresariado criticam a medida, que consideram um retrocesso, mas que no fundo esconde sua natureza elitista e anti-trabalhista, Já a esquerda e os sindicatos defendem a contribuição, argumentando que em uma democracia é importante ter um sindicato forte, enquanto isso a imensa maioria do povo é contra essa contribuição. Continuar a ler

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O Novo PAC de Lula: Suturas no território para o avanço capitalista

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Érico.

 

O Programa de Aceleração do Crescimento foi apresentado pela primeira vez no segundo mandato de Lula, em 2007. Na ocasião, foram anunciados R$ 503,9 bilhões em obras para as áreas de infraestrutura energética, de saneamento, habitação, recursos hídricos e sobretudo de transportes. A quarta versão do programa de Lula mantém a prerrogativa do “crescimento econômico, o desenvolvimento social e a melhoria na qualidade de vida da população”. O programa disporá de 1,7 trilhão de reais em investimentos públicos e privados, sendo que 371 bilhões serão aplicados do orçamento público até o ano de 2026.

Buscando retomar e finalizar obras inacabadas desde a primeiro edição do programa, o Novo PAC agora se apoia na política internacional da transição energética [agenda 2030], como parte do pacote de investimentos que visam o “desenvolvimento econômico sustentável”, no seu sentido mais genérico. A geração de empregos também é uma grande expectativa do governo, no qual se espera a criação em torno de 4 milhões de postos de trabalhos direta e indiretamente ligados ao programa.

Ferrovias para as elites agrárias

Após o Plano Safra que injetou 364 bilhões de reais em crédito para médias e grandes empresas agropecuárias, o Novo PAC segue a lógica do fortalecimento das elites do agronegócio. O programa prevê investimentos para a modernização e avanço da infraestrutura de transportes exclusivamente para a exportação de grãos e minérios. Para tornar mais econômico e lucrativo aos latifundiários de estados como o Mato Grosso, Goiás e Rondônia, o governo subsidiará obras como a Ferrogrão. Esta ferrovia que ligará Sinop, no norte de MT a Marabá, município no oeste do Pará dividirá terras indígenas, e apresenta grandes riscos socioambientais. A região de traçado da ferrovia adentra uma das regiões onde há mais conflitos territoriais na amazônia, como em Altamira e Itaituba, ambas no Pará.
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Mais um aumento absurdo da passagem de ônibus no Entorno do DF

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Aurora.

Não é de hoje que o transporte no DF causa dor de cabeça para o trabalhador: passagens caras, linhas insuficientes, ônibus precários, demora. Para quem mora no entorno, além das longas distâncias e do trânsito, ainda tem que lidar com o segundo aumento do preço das passagens só no ano de 2023.

Para quem vive em Planaltina (GO), por exemplo, precisa desembolsar nada mais, nada menos, que R$ 10,15 só para chegar na rodoviária do Plano Piloto! Isso tudo sem nenhuma expectativa de melhora e qualidade, tampouco de um aumento substantivo nos salários. Para um trabalhador que ganha um salário mínimo e vem diariamente ao plano, esse valor (que não inclui os trajetos internos em Brasília) já corresponde mensalmente mais de 30% do seu salário.

A máfia dos transportes não tem nenhuma intenção de melhorar a qualidade dos transportes. Quanto pior para nós trabalhadores, maiores seus lucros. Recebem milhões do governo que só engordam seus já fartos bolsos. Isso precisa acabar! Se o transporte é público, é um absurdo que a gente pague e ainda mais esse valor. Sendo assim, vamos lutar por transporte de qualidade e por tarifa zero. Não devemos pagar para trabalhar, para nos locomover. ■

Fora máfia dos transportes!
Tarifa zero, já!
Passe livre para os estudantes do Entorno, já!

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Pelo fim da opressão colonial do Estado de Israel contra o povo palestino!

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Antonio Galego

Foto: Bombardeios diários na Faixa de Gaza destroem casas, hospitais, escolas.

Desde o dia 07 de outubro o mundo acompanha uma escalada brutal da guerra na Palestina. As ações armadas do Hamas, batizadas de “Tempestade de Al-aqsa”, tinham o objetivo de romper o cerco colonial e o apartheid imposto pelo Estado de Israel na Faixa de Gaza. Várias ações tinham como foco as cercas, muros, instalações militares e novas colônias israelenses em expansão no território palestino. Além disso, foram uma consequência do aumento da violência do Estado de Israel que, segundo a ONU, de janeiro até agosto já tinha matado 200 palestinos.

A desinformação causada pela grande mídia apresentou um conflito iniciado de forma unilateral (“do nada”) pelo Hamas. Criaram mentiras chocantes e estimularam um racismo islamofóbico sem precedentes para justificar uma nova ofensiva de Israel (apoiada pelos EUA) contra o povo palestino. O que está ocorrendo desde então não é uma guerra, é um genocídio brutal contra a população na Faixa de Gaza. Além disso, as operações de Israel tem atingido alvos em outros países, como Líbano e Síria, podendo gerar um conflito de maiores dimensões.

Segundo o Ministro da Defesa de Israel, o genocida Yoav Gallant: “Estamos lutando contra humanos selvagens”. Essa ideia racista foi utilizado a quase um século atrás pelos nazistas, e mais antigamente ainda pelos europeus contra os povos indígenas da América. É da natureza do colonialismo. O objetivo de Israel desde o início foi desumanizar os palestinos e muçulmanos para justificar as suas atrocidades e crimes de guerra.
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POESIA PALESTINA DE COMBATE

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Samih al-Qasim (1939 – 2014) nasceu em Zarqá, no seio de uma família drusa. Formado professor, depois da publicação de seus primeiros poemas foi proibido pelo colonialismo sionista de exercer a profissão. Foi preso em várias ocasiões. É considerado um dos maiores e mais combativos poetas palestinos.

 

Discurso no mercado do desemprego

Talvez perca — se desejares — minha subsistência
talvez venda minhas roupas e meu colchão
talvez trabalhe na pedreira… como carregador… ou varredor
talvez procure grãos no esterco
talvez fique nu e faminto
mas não me venderei
ó inimigo do sol
e até a última pulsação de minhas veias
resistirei

talvez me despojes da última polegada da minha terra
talvez aprisiones minha juventude
talvez me roubes a herança de meus antepassados
móveis… utensílios e jarras
talvez queimes meus poemas e meus livros
talvez atires meu corpo aos cães
talvez levantes espantos de terror sobre nossa aldeia
mas não me venderei
ó inimigo do sol
e até a última pulsação de minhas veias
resistirei

talvez apagues todas as luzes de minha noite
talvez me prives da ternura de minha mãe
talvez falsifiques minha história
talvez ponhas máscaras para enganar meus amigos
talvez levantes muralhas e muralhas ao meu redor
talvez me crucifiques um dia diante de espetáculos indignos
mas não me venderei
ó inimigo do sol
e até a última pulsação de minhas veias
resistirei

ó inimigo do sol
o porto transborda de beleza… e de signos
botes e alegrias
clamores e manifestações
os cantos patrióticos arrebentam as gargantas
e no horizonte… há velas
que desafiam o vento… a tempestade e franqueiam os obstáculos
é o regresso de Ulisses
do mar das privações
o regresso do sol… de meu povo exilado
e para seus olhos
ó inimigo do sol
juro que não me venderei
e até a última pulsação de minhas veias
resistirei
resistirei
resistirei

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Golpes na África e o aumento da disputa interimperialista

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Jiren D.

No final de julho de 2023, ocorreu um golpe de Estado no Níger, país da África Ocidental e ex-colônia francesa. O golpe depôs o presidente Mohamed Bazoum, um aliado do Ocidente, e foi orquestrado por membros da Guarda Nacional Presidencial. O general Mohamed Bazoum Tchiana proclamou-se líder da junta militar em pronunciamento televisivo, no qual citou a deterioração da situação de segurança e a má situação socioeconômica como os motivos da tomada do poder.

O golpe de Estado militar no Níger ocorreu em um contexto de instabilidade política na região da África Ocidental, que vem se agravando nos últimos anos. O golpe seguiu o modelo de outros golpes no continente, como os golpes de Estado na Guiné (2021), Mali (2021) e Burkina Faso (2022). Todos esses países eram ex-colônias francesas e sofreram golpes militares com narrativas similares, marcados por um sentimento de rejeição a Paris e ao Ocidente, bem como pelo aumento da influência russa.
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O que estava por trás da “CPI do MST”?

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Aurora.

A CPI do MST surgiu em maio desse ano comandada pela direita parlamentar e teve seu fim em setembro. Cada sessão era um teatro no qual a direita buscava um palco para agradar sua base, em especial os ruralistas, ganhar apoio de um setor do povo e reaquecer a criminalização da luta pela terra. O teatro acabou sem nenhum resultado, nem mesmo a aprovação (ou desaprovação) do relatório final foi possível, pois a votação não conseguiu ser realizada antes da data prevista para o encerramento da CPI. Entretanto ainda que a CPI tenha sido “derrotada” cabe tirar dela algumas lições.

Em primeiro lugar, é importante ter em mente que apesar de ter ficado conhecida como CPI do MST ela não atingiu apenas o movimento, visava dar um recado também a outros movimentos de luta pela terra. Isso fica explícito no relatório final onde a criminalização se direcionava não apenas ao MST, mas também integrantes de outras organizações, como Zé Rainha, líder da Frente Nacional de Lutas Campo-Cidade (FNL), que aparece como um dos nomes a ser indiciado. Continuar a ler

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